BCE: Análise da reunião de 24 julho


Pausa do BCE: “Numa posição favorável”, mas persistem incertezas comerciais.

Conforme antecipado, o Banco Central Europeu decidiu manter inalteradas as taxas de juro na reunião de 24 de julho, assinalando a primeira pausa no atual ciclo de easing desde meados de 2024. Esta decisão, que mantém a deposit rate nos 2.00% e a main refinancing rate nos 2.15%, reflete uma abordagem mais prudente e dependente da evolução dos dados, num contexto económico global desafiante.

A Presidente do BCE, Christine Lagarde, afirmou em Frankfurt que a zona euro está “numa posição favorável”, com a inflação global a atingir o target de 2%. Ainda assim, advertiu que não há espaço para complacência: “Estamos numa fase de espera e observação”, referiu, sublinhando a necessidade de cautela enquanto se monitoriza o impacto das decisões anteriores na economia e nas dinâmicas inflacionistas.

O tom da reunião foi mais contido, condicionado pelo aumento das tensões geopolíticas e pela incerteza em torno das negociações comerciais com os Estados Unidos. Em junho, a inflação fixou-se nos 2.0% (YoY), enquanto a inflação core permaneceu ligeiramente acima, nos 2.3% (YoY). Apesar desta convergência em direção ao target do BCE, Lagarde alertou que os efeitos das reduções anteriores nas taxas de juro continuam a fazer-se sentir de forma gradual.

Entre os riscos externos destacados, sobressai o prazo de 1 de agosto para as negociações comerciais EUA–UE. Washington está a ponderar a imposição de tarifas até 15% sobre bens europeus, um recuo face a ameaças anteriores de 30% a 50%. Em resposta, Bruxelas prepara medidas retaliatórias que poderão afetar exportações americanas no valor de até €90 mil milhões. França e outros Estados-Membros equacionam inclusivamente a ativação do Anti-Coercion Instrument (ACI), mecanismo europeu de defesa comercial, caso as negociações não avancem positivamente.

Perante este enquadramento, o BCE mantém a sua postura de vigilância. O Governing Council continua atento não apenas à evolução da inflação interna, mas também a potenciais choques externos que possam alterar a trajetória económica da zona euro. Outro fator relevante é a valorização acentuada do euro face ao dólar norte-americano, que registou uma apreciação de 14% desde janeiro. Esta valorização tem contribuído para conter a inflação importada, mas compromete a competitividade das exportações europeias, levando algumas empresas a antecipar investimentos face a potenciais tarifas.

Lagarde sublinhou que o BCE não define metas cambiais, embora admita que as flutuações cambiais são uma variável importante na análise prospetiva da inflação.

No plano macroeconómico, a Presidente do BCE apresentou um cenário de otimismo cauteloso. A economia da zona euro revela sinais de resiliência, sustentada por um consumo privado robusto, investimento empresarial estável (algum dele antecipatório face a riscos tarifários), um mercado de trabalho sólido e crescimento salarial contínuo. Os custos laborais mostram sinais de moderação e as expectativas dos consumidores mantêm-se estáveis, com as projeções de longo prazo ancoradas em torno do target de 2%.

Ainda assim, os riscos permanecem orientados para o lado negativo. Lagarde identificou como principais fatores de pressão a instabilidade geopolítica, a consolidação orçamental em determinados Estados-Membros e possíveis disrupções nas cadeias de abastecimento. “Caso os conflitos globais diminuam ou as negociações comerciais avancem de forma construtiva, poderemos observar um impulso relevante na atividade económica”, afirmou. “Mas a própria incerteza representa, neste momento, um fator de travão.”

A Presidente do BCE evitou qualquer guidance, reiterando uma abordagem assente em decisões “reunião a reunião”, fundamentadas nos dados mais recentes e na evolução dos riscos. “Não nos comprometemos com qualquer trajetória específica”, afirmou. “As decisões futuras dependerão da evolução da inflação, dos dados recebidos e da avaliação contínua dos riscos.”

A decisão de manter as taxas foi unânime, reforçando o compromisso partilhado em assegurar a flexibilidade da política monetária, ao mesmo tempo que se protege a estabilidade de preços no médio prazo.

Na sequência da reunião, o mercado reviu em baixa as suas expectativas quanto a novos cortes de taxas. Ao contrário do que se observava no início do ano, os investidores deixaram de antecipar novas medidas de easing em 2025. O foco desloca-se agora para 2026, com previsões crescentes de que o BCE possa retomar cortes na segunda metade do ano.

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