Previsão Económica de Outono de 2025 da Comissão Europeia: Análise

A Comissão Europeia divulgou, a 17 de novembro, um novo conjunto de projeções económicas para o curto prazo (estas projeções são publicadas duas vezes por ano na Primavera e no Outono).

Num ano, muito pode mudar e, embora alguns fatores como os riscos geopolíticos e o frágil ambiente político em França se mantenham, muito se alterou desde o último Outono. O mais significativo foi a chegada de Trump à Casa Branca no início deste ano, desencadeando uma guerra comercial global, e a decisão histórica da Alemanha de suspender a regra constitucional do travão à dívida para permitir um aumento significativo (e bem-vindo) do endividamento e do investimento em defesa e infraestruturas nos próximos anos.

Naturalmente, estas mudanças levaram a Comissão Europeia a reverem as suas projeções económicas para o bloco. Embora as previsões para o mercado de trabalho tenham permanecido amplamente inalteradas para os próximos anos, apoiadas sobretudo por um setor dos serviços robusto, e a inflação deva continuar próxima da meta de 2% do BCE, as projeções relativas ao PIB e ao défice sofreram as revisões mais significativas.

O crescimento previsto para este ano foi revisto em baixa em 0,1 p.p. face às projeções do último Outono (para 1,4%). No entanto, o PIB de 2026 foi revisto em baixa em 0,4 p.p., para 1,4%, refletindo a persistente incerteza em matéria de política comercial e fatores adversos de natureza demográfica e laboral. O défice público também sofreu uma revisão significativa: +0,3 p.p. para 3,3% em 2025 e +0,5 p.p. para 3,4% em 2026 refletindo não apenas os já referidos planos de despesa da Alemanha, mas também a consolidação orçamental mais lenta do que o esperado em alguns Estados-Membros, num contexto de crescimento inferior ao previsto e de desafios políticos.

Entre as maiores economias da região, destacam-se as projeções para a Alemanha, França e Itália.

Na Alemanha, o robusto plano de despesa pública deverá impulsionar o crescimento para 1,2% em 2026 e 2027, após 0,2% em 2025, mas resultará igualmente num aumento da dívida pública (prevista subir para 67% do PIB em 2027, face a 63,5% em 2025).

O percurso de consolidação orçamental de Itália está finalmente a dar frutos e os seus défices deverão diminuir de 3% este ano para 2,6% em 2027, originando apenas um ligeiro aumento da dívida pública (+0,8 p.p.) nesse período. Contudo, ao contrário da Alemanha, cujas políticas orçamentais irão impulsionar o crescimento, a trajetória de crescimento de Itália nos próximos três anos é menos clara, traduzindo-se em projeções de crescimento muito moderado (0,8% em 2026 e 2027).

O crescimento de França nos próximos anos deverá ser apoiado por uma dinâmica interna robusta e por uma recuperação do investimento. Embora a Comissão preveja, com base no projeto de Orçamento para 2026, alguma forma de consolidação orçamental no próximo ano (ainda com um défice de 4,9% do PIB), em 2027, com a expiração de algumas medidas de reforço das receitas, o défice deverá voltar a subir para 5,3% do PIB.

Em suma, a comparação entre as duas projeções evidencia que, apesar de a inflação estar controlada e de o mercado de trabalho se manter sólido, a Europa deverá continuar a enfrentar um crescimento fraco e níveis de dívida mais elevados.

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